quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Amabilidade reduzida



Na semana passada, fui à formatura de um sobrinho num elegante clube de Brasília. Chegamos em cima da hora, e o salão estava lotado. As cadeiras vazias estavam “marcadas” por bolsas e casacos, como é o costume brasileiro. Depois de procurar inutilmente por dois lugares, decidi recorrer ao meu direito de Pessoa com Mobilidade Reduzida (PMR — abreviação minha) de ocupar poltronas preferenciais, junto com um cuidador.

É claro que enfrentamos olhares reprovadores. Na plateia, vi pessoas que não haviam utilizado o seu direito, entre elas, um homem com um tremor visível e um rapaz em cadeira de rodas, espremidos entre os convidados, quando poderiam estar sentados à frente, com mais espaço e conforto.

A lei brasileira equipara os direitos das pessoas com deficiência aos das pessoas com mobilidade reduzida e garante a ambos os grupos o atendimento prioritário. Nesse caso específico, os seguranças foram acolhedores e simpáticos, mas, como me lembrou hoje uma amiga, eles poderiam ter perguntado: “Onde está escrito?”. (Ao que eu responderia, de pronto, “Na Constituição Federal”.)

Senti-me culpada, durante todo o evento, por estar num local privilegiado, mesmo sabendo que é meu direito. A reprovação alheia reforçou minha autocondenação, trazendo desconforto e sofrimento desnecessários. Foi estressante tentar demonstrar minha mobilidade reduzida quando nos levantamos para cantar o Hino Nacional, por exemplo, como se eu tivesse de provar que não estava mentindo para poder me sentar na primeira fileira.

A conclusão é óbvia: para respeitar a mobilidade reduzida, precisamos ter a gentileza aumentada.


(Imagem: http://consumare.org/noticias/direitos-dos-cidadaos-mobilidade-reduzida/ )

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